Sunday, April 1, 2007

A Máfia dos bares

Não é novidade nenhuma para ninguém que frequente assiduamente os (já de si poucos) bares de música ao vivo na zona da Grande Lisboa e arredores, que as bandas que nos são apresentadas day in and day out nas agendas dos bares são quase sempre as mesmas, ou então que são formadas por músicos das mesmas bandas, mas que "trocam entre si" (por exemplo, o baterista da banda "X", toca também na banda "Y", bem como "dá uma perninha" nas bandas "Z", "A", "G", etc...).

Tudo bem que os donos dos bares tenham medo de pôr novidades em termos de bandas, porque até há aí bandas de qualidade duvidosa, que apresentam uma maquete em que as falhas de som, de interpretação, ou mesmo de execução são nulas, e depois ao vivo deixam muito (ou tudo) a desejar. Mas daí a fecharem as portas às novidades com qualidade que lhes são apresentadas é uma linha ténue, e que acaba por prejudicar quem quer apresentar algo de novo e fresco aos públicos que se apresentam practicamente hipnotizados pela monotonia das bandas que desfilam nas casas de música ao vivo.

Bandas com músicos profissionais, com anos de estrada e de experiência, são simplesmente postas de parte, só porque não há nenhuma "carta de referência" que é apresentada juntamente com a maquete?

(Por "carta de referência" leia-se um dos músicos pertencer à banda "A", "B" ou "C" que já toca nesse bar há dez anos, sempre o mesmo repertório, tocado pela mesma ordem, as mesmas piadas contadas nas mesmas alturas, etc... etc...)

Veja-se um exemplo:

Apareceram recentemente três novas bandas no mercado de covers... as três bandas têm vocalistas femininas, duas dessas bandas têm elementos de outras bandas que já tocam nos bares há três ou quatro anos e tocam o repertório "easy listening" para uma menina cantar. A outra banda aparece com um repertório diferente, mais roqueiro (na verdadeira acepção da palavra, e não "roqueiro-FM-histérico", e os músicos têm todos experiência de cerca de dez anos (alguns mais) em projectos de bares, de originais, de estúdio, etc... mas não são conhecidos nos bares.
Curioso que ao fim de dois meses, as duas primeiras bandas (as tais que têm um ou mais elementos que já fazem parte de outras bandas já conhecidas) tenham já três ou quatro gigs marcados (nos bares do costume), e a terceira banda não consiga nem um único concerto.

Ora das duas uma: ou as duas primeiras bandas estão a tocar à borla, ou estamos perante o verdadeiro cenário de "máfia de bares", em que ninguém fora da famiglia tem sequer direito a respirar, quanto mais a tocar.

O público inclusivamente já começou a dar sinal de que está um bocadinho farto de ver sempre as mesmas caras nos palcos, mas não é por isso que os donos cedem à vontade do freguês.

Este cenário arrasta-se há pelo menos dez anos. Eu como cliente desses bares estou muito farto de ver as mesmas caras, as mesmas vozes, ou mesmo (como já vi) bandas com qualidade duvidosa, com uma "cara linda" à frente, sem presença, sem voz, mas que como tem um guitarrista que toca com outras bandas da famigerada famiglia, tem lugar garantido em diversos bares.

Revolta-me, como músico, e como cliente.



Autor: Anónimo
Curriculum: músico de sessão há cerca de dez anos, em vários projectos de originais, músico de covers há cinco anos, apaixonado por música desde a barriga da mãe.

3 comments:

Africa Twin said...

É isso, mesmo infelizmente é verdade. Parabéns por não teres medo de colocar o dedo na ferida.

RockPoet said...

parabéns pelo blog. Não percas força e continua a dar-lhe. Abraço. ROCK ON!!!

alvaromrocha said...

Os tipos querem encher a sala, ponto, tanto se lhes dá se é heavy metalada a partir guitarras em palco ou velhotas à cappella...

O que conta é a "cervejola" a circular... muita, muitas vezes.

A melhor aposta seria multimedia, para impressionar os clientes e trazer mais, mas implica muitos estudos, trabalho e investimento.

Ainda esta semana li na CNN (acho) que um violinista que recebe fortunas colossais para tocar nas melhores salas de concerto do mundo fez uma experiência a pedido, tocou numa estação de metro de Nova Iorque, com um Stradivarius de mais de 300 anos, quase sem preço, durante 45 minutos, algumas das mais belas e complexas músicas para violinos...

Ninguém parou, e ganhou... 35 dólares, por um trauseundo que o reconheceu.

Mafia? Não acho que seja, mas também não faço o circuito em Lisboa, ainda... em Coimbra fazia-se bem, e acho que cá um tipo se senta num hotél e toca à vontade (piano) sem contracto e fica com as gorjas/copos, sem intervenção, desde que bem vestido e bom intérprete (diz ao barman que é para a namorada ou algo assim).

Resultou comigo no Hotel do Mar (Sesimbra), ainda vou tentar no Altis (R. Castilho), mas impressionar mais que o man que lá toca é obra...

Abraços,
AMR
http://www.alvaromrocha.com