Sunday, April 22, 2007

AS COISAS DE QUE ME QUEIXO

São varias as coisas de que me queixo após 15 anos de vida profissional na musica.
Uma delas passa por uma insistente e contagiante “arrogância intelectual” por parte de alguns músicos, sempre dispostos a ganhar muito e a trabalhar pouco. Caros colegas, a humildade fica sempre bem e é o único motor que nos permite não deixar de evoluir até ao fim das nossas vidas.
Também acontece muito e está de facto na moda a preguiça de ensaiar, o que revela excesso de auto confiança e uma atitude que menospreza em larga escala repertorio em questão, o que muitas vezes tem mau resultado. Mais uma vez caros colegas, não tenham vergonha de serem homens e não maquinas. O ser humano tem a necessidade natural de determinado tempo para assimilar e automatizar informação. E eu não sou suspeito em dizer isto porque faço muito trabalho de estúdio, tv e espectaculos em que os timings para montar repertorio muitas vezes vasto e denso, são muito curtos. Mas isso é o lado meramente pratico e profissional da questão. Eu estou a falar de fazer musica. De vez em quando convêm, não concordam?
Em contraste com tudo isto, as nossas sociedades continuam a dar todo o protagonismo aos “artistas” com caras bonitas que estão na moda porque aparecem imenso na tv, originando fenômenos do gênero, apresentadores que se armam em cantores, cantores que se armam em actores, actores que até então apenas têm curso de modelo, etc etc etc.
E um gajo com uma porrada de anos de estudo do seu instrumento e da musica no geral, a ter que fazer leitura à primeira vista e de preferência já a interpretar porque por vezes o tempo não dá para mais (esse tempo é gasto a tentar pôr os actores a cantar e devido às baldas por parte de uma qualquer apresentadora boazona e famosa que não consegue seguir o teleponto), o único mimo que ouve por parte da produção (de um programa de televisão, que é ao que me refiro como exemplo) toma forma na frase “as condições não são muitas, vê lá se te desenrascas.
E agora permitam-me alguns humildes conselhos, em nada pretensiosos, à malta mais nova. Ao pessoal do rock: Divirtam-se e continuem a fazer o que realmente gostam de fazer, mas não se esqueçam que a escola clássica (técnica e leitura) e o jazz (domínio da improvisação e o conhecimento integral do instrumento) são fundamentais para a vossa maturação musical, principalmente se pretendem ser profissionais neste ramo. Ao pessoal do jazz: Atenção malta, o estudo de II-V-I progression, rhythm changes e Coltrane changes é muito útil, necessário e fundamental, mas façam o favor de usar esse conhecimento de forma inovadora, estamos no século XXI, não nos anos 50 do século XX. Ao pessoal do clássico: Deixem-se de ser preconceituosos e façam por tocar de vez em quando sem uma partitura à frente, vão ver como se vão divertir.
Para terminar quero deixar aqui uma homenagem à malta da GDA, sem duvida a primeira instituição realmente focada em ajudar os músicos, qual SPA ou sindicato. Recomendo desde já a todos os colegas ainda não inscritos, que o façam o mais breve possível. Registem todo o repertório que tenham gravado em cd’s, vídeo clips, programas de tv, etc, e recebam o que vos é de direito.



Autor: Anónimo
Curriculo: Musico profissional desde 1992, tem participado em concertos, estudio e tv com inumeros artistas e bandas conceituadas no panorama musicalportugues. Faz frequentemente trabalho de orquestra para programas detelevisão. Embora tenha assumido uma carreira de freelance de há unsanos para cá, tocando variadissimos estilos, assumiu-se tambem como compositor ao lançar o seu primeiro album a solo em Outubro de 2005. É professor na JB Jazz em Lisboa e monitoriza frequentemente workshops e cursos de formação.

Sunday, April 15, 2007

Está nas vossas mãos

Por alturas de 1993/94, iniciou-se o projecto de originais em que trabalhei por mais tempo, mais concretamente até 2000/01. Apesar de já ter passado algum tempo desde esse período, ainda estão vivas na minha ideia todas as diligências e peripécias que atravessámos para a divulgação da banda, quer em concertos ao vivo quer no envio de maquetas e contactos directos com representantes de várias entidades ligadas à música.
Alguns anos depois, e com a minha literacia informática um pouco mais desenvolvida, vejo uma realidade claramente diferente para as bandas de originais que hoje em dia se queiram lançar e dar a conhecer ao público e a outras entidades ligadas à música (promotores de eventos, editoras, media, etc.).
Vejamos: com um orçamento relativamente baixo, conseguimos gravar uma maqueta de qualidade bastante razoável em 2000. Claro que para esse baixo orçamento ajudaram muito três factores: a relação excelente do nosso produtor com o dono do estúdio; o facto de sermos "cobaias" para a estreia do estúdio; e termos como método de trabalho a gravação do instrumental todo em simultâneo, o que reduziu substancialmente o tempo de ocupação do estúdio.
Porém, e o mais importante, o que fizemos com essa maqueta em seguida? Bem, mais uma vez graças a alguns bons contactos do nosso produtor, essa mesma maqueta chegou às mãos e foi ouvida por vários A&R e outros funcionários de diversas editoras e promotoras. Tendo conseguido o mais difícil (fazê-los ouvir essa maqueta), passámos à fase seguinte: levá-los a ver-nos ao vivo. Tivemos uma oportunidade excelente de o fazer, numa primeira parte a um concerto de uma banda de renome nacional. Lá estiveram alguns funcionários de editoras e aí os contactos se processaram. Nao importa agora explicitar os resultados desses contactos; o que mais importava era descrever todo o processo de contactos para uma banda obter uma possibilidade de contrato discográfico e/ou de promoção e agenciamento.

Actualmente, as bandas dispõem duma série de ferramentas promocionais que lhes permite fazer um sentido oposto nos contactos: serem as editoras a contactar as bandas que lhes possam interessar. Através duma estratégia bem delineada de apresentação dos trabalhos no MySpace, divulgaçao de press releases electrónicos para os media, lançamento de vídeos de concertos para o YouTube, criação de newsletters, ofertas especiais para visitantes da página web, blogues de divulgaçao da banda e com participaçao de fans e colaboradores, divulgação dos concertos e novidades da banda através de fóruns de música, etc., é possível oferecer um contacto regular com a banda, dando a conhecer ao público em geral e ao mundo da música o que estão a fazer em cada momento; e acreditem que isso é importante para quem decide contratar uma banda.
É um nunca acabar de opções que permitem a uma banda relativamente organizada conseguir chegar aos ouvidos de muito mais público e de muito mais pessoas intervenientes no negócio da música, com poucos meios. Até as gravações de maquetas, com a explosão de gravadores digitais e a panóplia de equipamento disponível a nível informático, permitem já uma qualidade bastante razoável nas mesmas. Longe vão os tempos da primeira maqueta que gravei, com uma cassette num gravador de quatro pistas.

Espero que este texto sirva de motivação para as muitas bandas que estão por aí e que têm qualidade: os ouvintes têm agora mais possibilidades para ouvir novos projectos e já o começam a fazer, destronando a supremacia das editoras como ditadoras do gosto musical.

Boa sorte para os vossos projectos musicais!

Autor:Luis Romero
Começou por tocar bateria ainda na década de 80, em diversos projectos de originais. A estreia ao vivo foi em 3 de Março de 1991, no dia em que completou 17 anos.
Pouco tempo depois, passou para o circuito de bares, ao mesmo tempo que estava em preparação um projecto de originais que teve sete anos de duração e que foi fundado em 1993. De seu nome Label Juice, este projecto é ainda hoje o que melhor retrata a sua evolução como baterista e compositor.
Após outra aventura nas covers, com uma duração de ano e meio, dedicou-se em exclusivo a jams experimentalistas com uma série de músicos. Entretanto, aproveitou para criar alguma base técnica e teórica com alguns professores em Portugal, que culminou com um ano de frequência na JB Jazz nas disciplinas de Bateria e Combo.Reside actualmente em Barcelona, onde para além de frequentar uma série de bares com música ao vivo e participa nas jam sessions, estuda no Taller de Músics.




Sunday, April 8, 2007

A procura dos porquês...

Como tudo começa? E porquê?
O meu caro amigo Rui Figueiredo pediu-me para escrever umas linhas sobre música ou relacionado com, como este blog está a começar achei por bem escrever sobre começos, ou seja, porque é que começamos a tocar,o que nos leva a fazer tal coisa? Porque é que passamos de ouvintes a executantes, e porque é que depois de saber tocar queremos mostrar aos outros?


Vamos pelo princípio: dizem os entendidos (pelo menos alguns) que todos temos ouvido absoluto entre os três e os quatro anos, alguns países aproveitam este espaço temporal para perceber qual é o instrumento preferencial da criança, colocam-nos numa sala cheia dos mais variados instrumentos e deixam os “putos” escolherem o que lhes dá mais prazer, ao fim de uns dias inevitavelmente a criança demonstra uma natural tendência para um deles. (poderia fazer aqui uma piada e dizer que os mais inteligentes escolhem a bateria...mas não vou ser desagradável).
Depois disto o que é que acontece? Existem dois caminhos, o mais comum pelo menos em Portugal é não ter aulas de música, o outro são os privilegiados que ou porque os pais têm dinheiro e vontade ou em muitos casos só vontade, conseguem assegurar que os filhos continuam a ter uma educação musical.
Também é verdade que muitos são os casos em que apesar da insistência para que o filho tenha aulas ele não tem o que é mais importante...vocação, vontade e prazer em tocar.
Na adolescência desenvolvemos aquilo a que os especialistas chamam “adorodeouvirmusicaeporquenaofazerumabanda” , amigos juntos numa garagem, uns instrumentos mal amanhados e toca a fazer barulho!
Acho que é por esta altura que na grande maioria dos casos acontece o “click”, alguns de nós são chamados por Apolo para fazer parte de uma das duas grandes famílias musicais, os que fazem e os que ouvem música. A única vantagem dos primeiros é que para alem de se deleitarem a ouvir também a entendem, o que as vezes pode ser desconfortável porque se preocupam demais em perceber o que se passa e passam ao lado da essência da música que é o prazer de a ouvir.
Este é o começo que eu quero perceber, quando formamos uma banda ou mesmo um projecto a solo, fazemo-lo porquê? Porque é que queremos compor, tocar para outros?
É pelo prazer de tocar, compor? Pelo dinheiro que possa vir a dar? Por vaidade? Por sentir que é uma forma de comunicar que se ajusta a nossa personalidade? É pelas miúdas(os)? Porquê?
Acho que quem tiver resolvida esta questão, esta bem lançado para ser mais feliz musicalmente, qualquer opção é boa, porque é a sua opção.
A grandeza dessa escolha é definida pela pequenez da recompensa, podemos até enriquecer as custas da música desde que não tenhamos comprometido o prazer, ou seja, existem muitos casos de sucesso de artistas que ganham milhares e não comprometem os seus ideais, aquilo que nos fez começar a tocar, se o “aquilo” for o prazer de tocar...acho que serão os mais felizes e no fundo uns privilegiados.
Por isso acho que é importante que definam à partida o porque de estar ligado a música, pode parecer uma pergunta um pouco idiota mas conheço muita boa gente que não tem esta questão bem resolvida, e isto é de uma importância nuclear no futuro do vosso projecto. Posso deixar aqui dois exemplos que para mim são dois extremos, o ideal seria encontrar um meio-termo.


Gosto muito de cantar e tocar mas se algum dia deixar de ganhar dinheiro com isto mais vale trabalhar numa bomba de gasolinaJack Johnson


Gosto demasiado da música para viver as custas delaMestre Carlos Paredes






Nuno Rocha

Organizador de eventos musicais ( ex. Vilar de Mouros 2007)

Sunday, April 1, 2007

A Máfia dos bares

Não é novidade nenhuma para ninguém que frequente assiduamente os (já de si poucos) bares de música ao vivo na zona da Grande Lisboa e arredores, que as bandas que nos são apresentadas day in and day out nas agendas dos bares são quase sempre as mesmas, ou então que são formadas por músicos das mesmas bandas, mas que "trocam entre si" (por exemplo, o baterista da banda "X", toca também na banda "Y", bem como "dá uma perninha" nas bandas "Z", "A", "G", etc...).

Tudo bem que os donos dos bares tenham medo de pôr novidades em termos de bandas, porque até há aí bandas de qualidade duvidosa, que apresentam uma maquete em que as falhas de som, de interpretação, ou mesmo de execução são nulas, e depois ao vivo deixam muito (ou tudo) a desejar. Mas daí a fecharem as portas às novidades com qualidade que lhes são apresentadas é uma linha ténue, e que acaba por prejudicar quem quer apresentar algo de novo e fresco aos públicos que se apresentam practicamente hipnotizados pela monotonia das bandas que desfilam nas casas de música ao vivo.

Bandas com músicos profissionais, com anos de estrada e de experiência, são simplesmente postas de parte, só porque não há nenhuma "carta de referência" que é apresentada juntamente com a maquete?

(Por "carta de referência" leia-se um dos músicos pertencer à banda "A", "B" ou "C" que já toca nesse bar há dez anos, sempre o mesmo repertório, tocado pela mesma ordem, as mesmas piadas contadas nas mesmas alturas, etc... etc...)

Veja-se um exemplo:

Apareceram recentemente três novas bandas no mercado de covers... as três bandas têm vocalistas femininas, duas dessas bandas têm elementos de outras bandas que já tocam nos bares há três ou quatro anos e tocam o repertório "easy listening" para uma menina cantar. A outra banda aparece com um repertório diferente, mais roqueiro (na verdadeira acepção da palavra, e não "roqueiro-FM-histérico", e os músicos têm todos experiência de cerca de dez anos (alguns mais) em projectos de bares, de originais, de estúdio, etc... mas não são conhecidos nos bares.
Curioso que ao fim de dois meses, as duas primeiras bandas (as tais que têm um ou mais elementos que já fazem parte de outras bandas já conhecidas) tenham já três ou quatro gigs marcados (nos bares do costume), e a terceira banda não consiga nem um único concerto.

Ora das duas uma: ou as duas primeiras bandas estão a tocar à borla, ou estamos perante o verdadeiro cenário de "máfia de bares", em que ninguém fora da famiglia tem sequer direito a respirar, quanto mais a tocar.

O público inclusivamente já começou a dar sinal de que está um bocadinho farto de ver sempre as mesmas caras nos palcos, mas não é por isso que os donos cedem à vontade do freguês.

Este cenário arrasta-se há pelo menos dez anos. Eu como cliente desses bares estou muito farto de ver as mesmas caras, as mesmas vozes, ou mesmo (como já vi) bandas com qualidade duvidosa, com uma "cara linda" à frente, sem presença, sem voz, mas que como tem um guitarrista que toca com outras bandas da famigerada famiglia, tem lugar garantido em diversos bares.

Revolta-me, como músico, e como cliente.



Autor: Anónimo
Curriculum: músico de sessão há cerca de dez anos, em vários projectos de originais, músico de covers há cinco anos, apaixonado por música desde a barriga da mãe.